sexta-feira, maio 13, 2005

Indústria da Edição em Portugal

Ana Patrícia Pacheco – 9010109, CTDI 4º ANO
Cláudia Alves – 9010082, CTDI 4º ANO




O estado da edição e do mercado livreiro em Portugal pode se definir como “em crise”. Somos um país de escassos leitores a par de uma faixa enorme de população que não tem poder de compra, há uma elite cultural diminuta de onde saem os chamados “grandes leitores”. O sistema escolar é deficiente, exactamente à medida da ausência ou pobreza das bibliotecas, que é a literacia. Confinado o mercado dos livros a este espaço nacional nunca foram criadas as condições, neste campo, para uma relação normal com outros países de língua portuguesa.
Tudo isto, gera uma série de anomalias que a escassez de leitores explica uma rede deficiente de livrarias; as quais se encontram quase exclusivamente nos grandes centros urbanos.
Em Portugal, nunca houve uma forte indústria do livro, nomeadamente a primeira livraria era uma enorme superfície onde o utilizador para aceder a um tipo de livros mais especializados tinha que transpor numerosas salas e expositores cheios de ficção “light”.
A regra consistia na escassa produção editorial e muita sobriedade, o livro era como um objecto de consumo rápido e consagrado aos mais desvairados assuntos. Os livros que estão no catálogo não estavam esgotados mas encontravam-se nos armazéns dos editores ou dos distribuidores porque as livrarias não tinham espaço de armazenamento.
Actualmente, já nem sequer as novidades conseguem chegar às livrarias, um dos principais problemas dos editores de colocar os seus livros nas livrarias. A situação actual do mercado do livro em Portugal é dominada pela lógica das novidades, estes números incluem os livros escolares e as edições de autor e inúmeras instituições. Assim se explica que as livrarias não tenham capacidade para acolher todas as novidades e muito menos para armazená-las e criar fundos.
Os editores podem dizer que as livrarias prestam a um mau serviço, pois as livrarias queixam-se que as editoras “as afogam no mar de livros” que editam e para os quais é impossível haver compradores suficientes.
Os editores confirmam, que um livro tem mais ou menos um mês e meio para mostrar o que vale. Todo o processo de comercialização dos livros tende a eliminar aqueles que pertencem a esta segunda categoria, para a qual não foram criadas as necessárias defesas.
Hoje em dia, nenhum editor pode apostar em livros que têm uma produção cara e levam muito tempo a esgotar. O aumento de números de títulos publicados significa a condenação a uma vida breve e pouco gloriosa de muito deles. Nesta generalizada concentração de sinais de massificação da edição há uma concentração de vendas num número cada vez menor de autores.
Um mercado que se sustenta de novidades precisa de estar sempre a produzi-las, a um ritmo cada vez mais alucinante. Este retrato pouco complacente da situação editorial e do mercado do livro foi feito quando da instituição da lei do preço fixo do livro.
A abertura de hipermercados, com espaços cada vez maiores dedicados aos livros, e com descontos que nenhuma livraria podia praticar veio acentuar esta situação de “crise” (descontos esses feitos às custas das exigências dos editores, cada vez mais dependentes dessa forma de escoamento).
A edição de livros com o perfil pré-determinado de utilizadores (vendas em hipermercados) conduziu à redução da diversidade editorial e qualidade editorial. Esta débil situação viu-se agravada com a abertura das Fnacs, as quais têm fundos de catálogo e uma política de aquisição e exposição das novidades editoriais. Este êxito explica-se através do perfil de leitor português, um leitor generalista muito pouco especializado. As Fnacs agradam aos editores e distribuidores porque garantem a venda de volumes muito maiores e pagam nos prazos estabelecidos, coisa que as livrarias hoje em dia têm muita dificuldade em fazer.
O preço fixo do livro, ao contrário da missão inicial, a de reformular e especializar as livrarias tradicionais introduziu no mercado livreiro uma relação fechada de competição, o que traz consequências como o caso das feiras do livro que deixam as livrarias sem consumidores durante semanas.
Em Portugal, a actividade editorial e o mercado livreiro estão suspensos de equilíbrios tão precários que impera o medo, pois existe uma tendência para o aumento da oferta de títulos disponíveis acompanhado por um decréscimo acentuado da tiragem média de cada um. O crescimento no numero de títulos está directamente ligado a outro aumento, o de numero de editores a operar no país.
Na ultima década, mais importante que o aumento do número de bibliotecas foi a notória melhoria qualitativa dos seus serviços, o que reflecte num aumento claro do numero de utilizadores,
Portugal lê pouco, porquê? A falta de investimento na educação, o seu isolamento a nível europeu e a acção de censura oficial durante mais de metade do século XX resultou numa das taxas mais altas de alfabetísmo e literacia, o que ajuda a compreender esta realidade. O analfabetismo, a literacia, o baixo nível de habilitações académicas, o abandono escolar, a baixa formação profissional, e o fraco nível cultural são factores que estão todos ligados e que contribuem para o atraso e o fraco nível de competitividade internacional do nosso país.

Bibliografia:

CASTELLS, Manuel – A Galáxia internet: Reflexões sobre Internet, Negócios e Sociedade. Lisboa: Gulbenkian, 2004.

ANSELMO, Artur – Estudos de História do Livro. Lisboa: Guimarães Editores, 1997.

MARTINS, Jorge M – Marketing do Livro. Oeiras: Celta, 1999.

SALAUN, Jean-Michel – Marketing des bibliothèques et des centres de documentation. Paris: Cercle de la Librairie, 1992.

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