segunda-feira, abril 10, 2006

A biblioteca e a escola



"Recordo o tempo em que, aluna do velho Carolina Michaelis, éramos recambiadas para o biblioteca quando faltava uma professora. Um espaço frio, não falo da temperatura, dessa já não me lembro, rodeado de altas armários onde estavam fechados os livros, mesas compridas e um silêncio confrangedor presidido pela funcionária de bata cinzenta. Esta é a minha memória. Uma memória que sem ser má também não se traduz na saudade por um lugar apetecível.Bem diferente da biblioteca da minha escola, hoje, onde os alunos entram em grande número sem serem empurrados por nenhuma obrigação ou ordem, num quase silêncio natural em quem entra num espaço de leitura e de trabalho. Um espaço onde são recebidos por uma funcionária acolhedora e sabedora, onde podem ler ou estudar em mesas pequenas distribuídas pelas salas, ou, para uma leitura recreativa, sentar-se num recanto especialmente destinado, com jornais, revistas e alguns livros de banda desenhada ou aventuras. Numa terceira sala estão os computadores para trabalhar, para um joguinho ou para uma pesquisa na Internet.Além disso a biblioteca é um espaço claro e bonito oferecendo em placards bem posicionados, as últimas aquisições, mostrando posters, fotografias, postais que em cada momento do ano chamam a atenção para celebrações e acontecimentos que vão tendo lugar: um prémio recentemente atribuído, o nome e a obra de uma grande pintora, de uma poetisa ou de um compositor, o dia da mulher, o dia dos namorados… Onde se propõem concursos para despertar o interesse por personalidades, obras ou acontecimentos. É também o lugar onde já foram apresentados mais de uma vez as tentativas literárias bem sucedidas de alunos ou professores. É onde se fazem pequenas edições dessas obras. É também o lugar onde os alunos sabem que podem encontrar professores disponíveis para tirar dúvidas, esclarecer, ensinar.Uma biblioteca assim é um lugar onde se aprende, sem constrangimentos nem imposições, a respeitar o silêncio, onde pelo olhar se começam a amar os livros, onde se é levado a descobrir o gosto pela leitura, onde sem custo se vão retendo o nome e o rosto dos escritores, onde se descobrem novos títulos e onde se é atraído para coisas bonitas e carregadas de sentido. É curioso constatar que há hoje alunos que trocam um intervalo de plantão na escadaria ou nos corredores, por uma fugidinha à biblioteca. Penso que uma biblioteca assim concebida é de facto uma mais valia de uma escola, um lugar diferente, cheio de vida, onde os alunos aprendem naturalmente e quase inconscientemente regras e comportamentos, onde vão adquirindo saberes e onde se vai furtivamente instalando neles o gosto de ler e o amor pelos livros. É além disso um lugar de descoberta!"
Manuela Salvador Cunha
*Professora do Ensino Secundário. Escreve no JANEIRO semanalmente às segundas-feiras

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