quinta-feira, setembro 28, 2006

Blogs reproduzem métodos de comunicação da antiguidade chinesa

Blogs reproduzem métodos de comunicação da antiguidade chinesa
Por Caroline Vivanco, da Ascom/UFPE

"Símbolo da atualidade e muito diferente do que se convencionou, os blogs, contraditoriamente, remontam à antiguidade chinesa. Provar que existe mais continuidade do que processos absolutamente novos nas formas de comunicação a distância atuais é um dos objetivos da tese "Uma trajetória em redes: modelos e características operacionais das agências de notícias, das origens às redes digitais", defendida no doutorado de Comunicação da UFBA, pelo professor Afonso Júnior, do Departamento de Comunicação da UFPE.
Nos seus levantamentos, o professor identificou que nas antigas cidades da China existiam murais onde as pessoas escreviam mensagens e as outras vinham e comentavam os escritos, faziam críticas ou adicionavam novas informações. Afonso concluiu que a tecnologia digital só potencializou e ampliou a capacidade de uso desta ferramenta que, como já foi dito, existe há mais de três mil anos.
Segundo observou o pesquisador, na contemporaneidade, é fácil observar que o mundo está interconectado e atribuir tal fenômeno exclusivamente à tecnologia digital. No entanto, poucas pessoas sabem que em 1870 a agência Reuters tinha uma rede de cabos de telégrafos de 470 mil km, metragem suficiente para dar dez voltas no globo e interligava várias partes do mundo, inclusive os cabos chegavam onde hoje é a Praça do Arsenal, no Recife antigo.
Esse e outros dados observados servem para demonstrar que o modelo de organização do jornalismo em redes já existia antes das tecnologias digitais e surgiu com as agências de notícias. Essa é uma das principais premissas defendidas na tese de Afonso, durante os quatro anos de estudo na Faculdade de Comunicação (Facom), da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
ORIGEM – De acordo com o levantamento histórico feito pelo pesquisador, desde sua origem, no século XIX, as agências de notícias se organizavam sobre premissas que continuam valendo até hoje. A produção descentralizada de serviços através de uma velocidade que permita a atualização contínua de informações, para que estas possam ser distribuídas aos diferentes veículos de comunicação, é um raciocínio que continua guiando a lógica operacional das agências. O professor explica ainda que, inicialmente, elas surgiram para responder às demandas de um público-leitor alfabetizado que necessitava conteúdos mais especializados, como a cobertura de eventos de impacto internacional.
Entretanto as novas demandas não podiam ser feitas pelos jornais devido à falta de infra-estrutura adequada. “Uma das características responsáveis pela eficiência das agências de notícias é o funcionamento em redes, ou seja, pontos de apuração distribuídos ao redor do planeta com amplo alcance que respondem a determinadas demandas sociais”, argumenta Afonso.
Assim, como as estruturas técnicas foram mudando, passando das redes de telégrafo até as redes digitais, as necessidades sociais também se transformaram. Cada vez mais, as informações produzidas pelas agências se voltaram para o setor comercial e financeiro ao invés dos setores midiáticos.
O pesquisador comprova seu raciocínio através de dados recentes da agência internacional Reuters que mostram que 5% do seu faturamento provêm da venda de serviços para órgãos da mídia em geral, ao passo que os 95% restantes do lucro vêm do setor financeiro, comercial e bancário.
“Estas informações vendidas pelas agências têm um caráter jornalístico, mas também provocam desdobramentos nos setores comerciais”, explica Afonso. E exemplifica o pensamento, citando o caso de uma geada que destrói plantações de laranja no sul do Brasil e que além da repercussão social interessa, sobretudo, às pessoas que investem no produto laranja na bolsa de valores de São Paulo. De acordo com dados históricos, esse serviço surgiu no início da década de 1970 com um serviço criado pela Reuters e depois se expandiu para as demais agências.
O pesquisador destaca que, a partir deste ponto, surge uma nova configuração de jornalismo, completamente diferente da que se trabalha no Brasil. "No País, o jornalista é visto como o profissional que trabalha cobrindo os problemas da cidade, do cotidiano. Lá fora, cobrir uma empresa, não como assessor de imprensa, mas na obtenção de dados e informações é considerada uma atividade jornalística, sim", argumenta Afonso.
Além de retomar as discussões sobre as agências de notícias, já que o assunto não era aprofundado em nível de doutorado há mais de 25 anos, a tese do professor Afonso Júnior é primeira em língua portuguesa a abordar a questão das agências e das redes digitais. E, de acordo com o professor, o trabalho pode ser utilizado para futuras problematizações do jornalismo que tratem a organização dos jornais em rede, a democratização da informação em contextos internacionais e a organização em escalas globais da informação, da notícia e do jornalismo. Afonso esclarece, ainda, que o estudo das agências auxilia na compreensão desses fenômenos, pois eles estão atrelados à dinâmica de redes e esta forma de organização foi criada pelas agências. "
Mais informaçõeszeafonsojr@gmail.com
Fonte: http://www.ufpe.br/new/visualizar.php?id=4427

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