"Os múltiplos suportes digitais, e em particular a Internet, revolucionaram por completo os modos de recolha, produção e apresentação de conteúdos com valor patrimonial. O “Setúbal na Rede”, no que à realidade distrital diz respeito, apresenta um espólio online que constitui parte da actualidade da última década. E gratuito!
Uma das marcas distintivas do actual jornalismo digital passa justamente pela disponibilização de um alargado conjunto de conteúdos (notícias, fotografias, infografias, vídeos, etc.) disponíveis de uma forma ampla, imediata e, em grande parte dos casos, sem custos para o internauta. A possibilidade de consulta, radicada nos princípios de segurança e robustez técnica, longevidade do suporte, ferramentas de pesquisa, usabilidade, acesso universal, entre outros, tem transformado o modo como cada um de nós acede ao monumental acervo mundial de informação e conhecimento. Este potencial é válido para o utilizador comum e redobrado para quem, de forma orientada, busca dados específicos, sendo o mundo da investigação um exemplo por excelência.
Verdadeiramente, o que está em causa é a preservação da memória que, ao longo dos séculos, tem assumido várias formas que passam da oralidade às grafias, culminando no modo binário de fixar pergaminhos e ideias. O esforço milenar de registar discursos, acontecimentos, documentos, radica profundamente na própria estrutura da memória humana: somos feitos de lembranças, com níveis de importância e profundidade muito diferenciados.
No que ao jornalismo digital concerne, a web veio promover uma base de trabalho que tecnicamente possibilita o arquivamento das notícias e mantém canais abertos de consulta através dos mecanismos de catalogação e acesso (livre ou condicionado). A actualidade, por definição inconstante, efémera e perecível, vê reforçada a sua dimensão histórica através das possibilidades de remeter para enquadramentos e contextos anteriores, a notícia nascida hoje. Urbi et orbi (em todo o lado, em toda a parte), a informação adquire um valor-mercadoria proporcional ao interesse que suscita, tendo assumido ao longo da história dos meios de comunicação de massas um interesse e importância crescentes. Se é certo que este tipo de preocupações documentalistas e arquivísticas não se tem constituído como prioritária nas organizações jornalísticas, os tempos internéticos vieram estimular esta nova valência da plataforma electrónica. Assim, um dos indicadores de qualidade, quantidade, variedade, e porque não dizer, de marca de serviço público, está intimamente associado à memória e aos sedimentos da experiência jornalística disponibilizados através da world wide web.
Em particular no “Setúbal na Rede”, esta é uma questão acutilante tendo em conta a disponibilização de todos os trabalhos realizados durante quase uma década de actividade (estamos a um ano dessa comemoração) traduzida na possibilidade de procurar determinadas notícias, entrevistas, textos de opinião e outros, através de busca interna no portal, bem como os espaços de informação especial, denominados “dossiers”. Nessas páginas virtuais concentra-se o que de mais significativo aconteceu no distrito de Setúbal, aos níveis político, económico, social, cultural, etc. Mais do que o deslumbramento perante a técnica, a questão deve ser centrada na apropriação social das possibilidades que a tecnologia induz. O arquivo, feito memória permanentemente presente, faz parte dessa quase mágica capacidade humana de convocar experiências e lembranças de memória múltipla, instantânea e cumulativa. Assim no espírito como na máquina!
P.S.: A memória, ou no caso em apreço, a falta dela, assumiu esta semana contornos de alguma gravidade editorial. Refiro-me à quase ausente referência ao 20º aniversário da morte de Zeca Afonso. Sendo as comemorações uma das temáticas mais apetecidas por parte das redacções, não se entende que tenha sido deixado para o rodapé da notícia ““Vila Morena” prepara Observatório das Canções de Protesto”, a alusão a um assunto que teve na imprensa nacional (net, rádios e televisões) tratamento amplificado. Não se encontra um texto de raiz sobre a efeméride (notícia ou opinião), uma entrevista a amigos, familiares ou à Associação José Afonso! E o arquivo do “Setúbal na Rede”? Onde estão as referências anteriores a este tema? Encontram-se nos resultados da busca interna ao portal (sim, fiz esse exercício). Pelo exposto, memória não é só técnica, é sobretudo lembrança humana. "
Ricardo Nunes - 26-02-2007
Uma das marcas distintivas do actual jornalismo digital passa justamente pela disponibilização de um alargado conjunto de conteúdos (notícias, fotografias, infografias, vídeos, etc.) disponíveis de uma forma ampla, imediata e, em grande parte dos casos, sem custos para o internauta. A possibilidade de consulta, radicada nos princípios de segurança e robustez técnica, longevidade do suporte, ferramentas de pesquisa, usabilidade, acesso universal, entre outros, tem transformado o modo como cada um de nós acede ao monumental acervo mundial de informação e conhecimento. Este potencial é válido para o utilizador comum e redobrado para quem, de forma orientada, busca dados específicos, sendo o mundo da investigação um exemplo por excelência.
Verdadeiramente, o que está em causa é a preservação da memória que, ao longo dos séculos, tem assumido várias formas que passam da oralidade às grafias, culminando no modo binário de fixar pergaminhos e ideias. O esforço milenar de registar discursos, acontecimentos, documentos, radica profundamente na própria estrutura da memória humana: somos feitos de lembranças, com níveis de importância e profundidade muito diferenciados.
No que ao jornalismo digital concerne, a web veio promover uma base de trabalho que tecnicamente possibilita o arquivamento das notícias e mantém canais abertos de consulta através dos mecanismos de catalogação e acesso (livre ou condicionado). A actualidade, por definição inconstante, efémera e perecível, vê reforçada a sua dimensão histórica através das possibilidades de remeter para enquadramentos e contextos anteriores, a notícia nascida hoje. Urbi et orbi (em todo o lado, em toda a parte), a informação adquire um valor-mercadoria proporcional ao interesse que suscita, tendo assumido ao longo da história dos meios de comunicação de massas um interesse e importância crescentes. Se é certo que este tipo de preocupações documentalistas e arquivísticas não se tem constituído como prioritária nas organizações jornalísticas, os tempos internéticos vieram estimular esta nova valência da plataforma electrónica. Assim, um dos indicadores de qualidade, quantidade, variedade, e porque não dizer, de marca de serviço público, está intimamente associado à memória e aos sedimentos da experiência jornalística disponibilizados através da world wide web.
Em particular no “Setúbal na Rede”, esta é uma questão acutilante tendo em conta a disponibilização de todos os trabalhos realizados durante quase uma década de actividade (estamos a um ano dessa comemoração) traduzida na possibilidade de procurar determinadas notícias, entrevistas, textos de opinião e outros, através de busca interna no portal, bem como os espaços de informação especial, denominados “dossiers”. Nessas páginas virtuais concentra-se o que de mais significativo aconteceu no distrito de Setúbal, aos níveis político, económico, social, cultural, etc. Mais do que o deslumbramento perante a técnica, a questão deve ser centrada na apropriação social das possibilidades que a tecnologia induz. O arquivo, feito memória permanentemente presente, faz parte dessa quase mágica capacidade humana de convocar experiências e lembranças de memória múltipla, instantânea e cumulativa. Assim no espírito como na máquina!
P.S.: A memória, ou no caso em apreço, a falta dela, assumiu esta semana contornos de alguma gravidade editorial. Refiro-me à quase ausente referência ao 20º aniversário da morte de Zeca Afonso. Sendo as comemorações uma das temáticas mais apetecidas por parte das redacções, não se entende que tenha sido deixado para o rodapé da notícia ““Vila Morena” prepara Observatório das Canções de Protesto”, a alusão a um assunto que teve na imprensa nacional (net, rádios e televisões) tratamento amplificado. Não se encontra um texto de raiz sobre a efeméride (notícia ou opinião), uma entrevista a amigos, familiares ou à Associação José Afonso! E o arquivo do “Setúbal na Rede”? Onde estão as referências anteriores a este tema? Encontram-se nos resultados da busca interna ao portal (sim, fiz esse exercício). Pelo exposto, memória não é só técnica, é sobretudo lembrança humana. "
Ricardo Nunes - 26-02-2007
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