segunda-feira, outubro 01, 2007

Brasil: Livro conta mudanças causadas por fuga de D.João VI

Um livro-reportagem lançado recentemente no Brasil, resultado de uma investigação jornalística de dez anos, relata como a fuga de D.João VI mudou a história do Brasil e de Portugal há 200 anos.
«1808 - Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil», do jornalista Laurentino Gomes, foi lançado há pouco mais de duas semanas no Brasil.
Desde então é um sucesso editorial e já lidera o ranking dos livros mais vendidos na categoria não-ficção da Livraria Cultura, uma das maiores de São Paulo.
«Os resultados foram muito além do que eu imaginava e esperava. Sinal que os leitores estão adorando o que escrevi. O que mais eu poderia desejar?», salientou Laurentino Gomes à agência Lusa.
A obra ainda não tem data definida para ser lançada em Portugal, mas o contrato foi negociado com a Editora Dom Quixote, na semana passada, avançou o autor.
«Acho que será muito bem recebido, em Portugal. O livro procura fazer um julgamento bastante isento dos acontecimentos de 200 anos atrás», disse.
«O livro é todo baseado em factos históricos. Tem pouca opinião. Por isso, provavelmente receberá tratamento equilibrado também por parte dos leitores dos dois lados do Atlântico», afirmou.
«1808» mostra ainda o papel fundamental do povo português na resistência a Napoleão Bonaparte, além das vitórias dos ingleses, aliados aos portugueses, a começar pela do Vimeiro em 1808, decisivas para a vitória final contra Napoleão, em Waterloo, em 1814.
O livro é dividido em 28 capítulos, com um total de 414 páginas, que incluem dois cadernos a cor e mostram 36 ilustrações de cronistas e pintores renovados da época, como Debret, Rugendas, Henderson e Chamberlain.
«1808» inclui igualmente um mapa da viagem de D. João VI e uma «linha do tempo» a mostrar os principais acontecimentos no Brasil e no mundo entre a Revolução Francesa e a independência brasileira.
A ideia de escrever sobre os 200 anos da fuga de D. João VI surgiu quando Laurentino Gomes era editor executivo da Revista Veja, em São Paulo, em 1997.
Na época, a revista encomendou ao jornalista uma série de especiais históricos, que seriam distribuídos como brinde aos assinantes e compradores.
O projecto incluiu o primeiro centenário da Proclamação da República, o Descobrimento do Brasil e a fuga da família real portuguesa para a então colónia brasileira.
Desses três, apenas o primeiro foi publicado, em 2000, e distribuído no Brasil e em Portugal juntamente com as revistas Veja e Visão, sob o título «A Aventura do Descobrimento», escreveu Laurentino.
«Como já tinha iniciado as minhas leituras, acabei me apaixonando pelo assunto. Nesses últimos 10 anos, li mais de 150 livros. Virou uma verdadeira obsessão», afirmou o autor.
O jornalista consultou obras em diversas locais, como a Biblioteca Nacional da Ajuda, em Lisboa, a Biblioteca Thomas Jefferson do Congresso Americano, em Washington, e a Biblioteca Mindlin, em São Paulo.
Escrito numa linguagem acessível, «1808» resgata a história da corte portuguesa no Brasil e devolve os seus protagonistas «à dimensão mais correcta possível dos papéis que desempenharam duzentos anos atrás».
«Coube a eles transformar o Brasil, de uma colónia atrasada e ignorante num país independente», afirmou, referindo-se à criação de várias instituições que existem até hoje, como o Banco do Brasil e o Supremo Tribunal Federal (STF).
Laurentino salientou ainda que, caso D. João VI não tivesse fugido de Portugal para o Rio de Janeiro, em 1808, o Brasil não existiria como é hoje.
«Provavelmente teria se pulverizado em pequenas repúblicas, como aconteceu com a América espanhola. Seria uma constelação de países irrelevantes na América do Sul, cuja liderança caberia à Argentina», disse.
«D. João VI, portanto, criou o Brasil independente e gigante que temos hoje, com todas as suas virtudes e defeitos«, sublinhou.
Jornalista com mais de 30 anos de experiência, Laurentino Gomes já trabalhou como repórter e editor de alguns dos principais jornais e revistas do Brasil, como O Estado de São Paulo e a Veja.
Actualmente comanda uma unidade da Editora Abril responsável pela publicação de 23 títulos, entre eles as revistas Casa Claudia, Quatro Rodas, Playboy, National Geographic e Viagem e Turismo.
Em 1999 trabalhou por um breve período em Portugal, com a missão de contribuir para o redesenho da Visão, revista semanal de informação editada pela AbrilControlJornal, uma sociedade tripartida constituída por brasileiros, portugueses e suíços.
«Permaneci quatro meses em Lisboa. Foi uma experiência inesquecível da qual tenho saudades até hoje. Voltar a Portugal com um livro sobre a mudança da corte de D. João para o Brasil é uma forma de amenizar essa saudade e, ao mesmo tempo, de homenagear os portugueses que me receberam e trataram com tanto carinho oito anos atrás», afirmou.

Fonte: http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?section_id=4&id_news=297139

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