segunda-feira, outubro 08, 2007

Livros “viajam” até bairro social

"Pequena e de olhos espertos, Sandrina agarra-se ao livro que leva para casa. Este será seu durante um mês, mas espera que “as senhoras da biblioteca” regressem brevemente ao bairro social onde mora, em Mangualde, e lhe emprestem outros. Sandrina Vale, de cinco anos, vive no Bairro Nossa Senhora do Castelo, onde as casas, pequenas, instáveis e com falta de condições de habitabilidade albergam sobretudo famílias de etnia cigana e de retornados das ex-colónias. Desde Fevereiro que está na secretaria de Estado de Ordenamento do Território e das Cidades, a aguardar disponibilidade de verbas, um projecto da Câmara para a construção de 89 fogos que permitam àquelas famílias viver com mais dignidade.No entanto, a autarquia não quer só reabilitar as estruturas físicas do bairro, mas também a sua imagem. Está empenhada em fomentar relações sociais e humanas com os moradores, para que estes se sintam cada vez mais integrados. Nesse âmbito, lançou esta semana a iniciativa “O livro vai ao bairro”, que tem como objectivo pôr os seus habitantes - dos mais novos aos mais velhos - a ler, através da “descentralização” do acervo da biblioteca municipal, situada a mais de oito quilómetros.“Este projecto vem ao encontro da valorização e desenvolvimento pessoal e social. É forma de as pessoas se sentirem valorizadas e integradas na sociedade global em que vivemos”, justificou a vereadora Sara Vermelho.Na primeira sessão de “O livro vai ao bairro”, que se repetirá todos os meses, as obras levadas pelas técnicas da biblioteca para uma sala ao lado da capela não chegaram para todos os gostos. Apenas sobraram bandas desenhadas mais destinadas ao público juvenil, tendo todos os restantes livros “voado” em poucos minutos, nomeadamente infantis, de adivinhas, de contos populares e de lendas. Sandrina Vale ainda não sabe ler, mas agarrou-se ao livro “Onde meto o meu nariz?”, de Conceição Areias e Catarina Cardoso, porque, como explicou, “tem poucas letras e desenhos bonitos”. Não satisfeita, pedia ao pai para levar outro para casa que, no entanto, já não havia.“Vamos depois à biblioteca”, respondeu-lhe o pai, Sandro Vale, aceitando assim o convite que foi lançado aos presentes de que, apesar de os livros chegarem mensalmente ao bairro, aquele espaço estará sempre de portas abertas para os receber. Orgulhoso, Sandro, de 26 anos, disse à Lusa que a filha “já sabe escrever o nome dela” e, apesar de ser feirante, considera fundamental ter estudado até ao sexto ano de escolaridade. “É importante que a minha filha pegue nos livros. Um dia mais tarde, quando for para a escola, já está mais familiarizada”, sublinhou.De outra geração, também Licínia Silva Lourenço, de 52 anos, acha que “toda a gente deve ler livros, que dão muito conhecimento”. “Adoro os programas deste senhor na televisão. Vejo sempre, porque ele explica tudo muito bem”, afirmou, apontando para uma obra de José Hermano Saraiva que, no entanto, opta por não levar para casa, porque “é muito grosso e tem letras muito pequenas”."
Fonte: O primeiro de Janeiro

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