sexta-feira, janeiro 04, 2008

Aprender o mundo pelos dedos

"Dia Mundial do Braille
Aprender o mundo pelos dedos
Com celebração a 4 de Janeiro [hoje], o Braille é cada vez mais reconhecido como um ferramenta indispensável para quem é portador de deficiência visual. Ainda assim só uma minoria se rendeu a este recurso. O Paulo é apenas um exemplo dos que diariamente dependem deste alfabeto para perceber o mundo que os rodeia.As instituições de apoio ao deficiente visual lamentam que a sociedade ainda apresente muitas carências no que toca ao braille e apelam aos governantes que fomentem o ensino deste alfabeto, quer de quem dele precisa, quer de todos os outros, exactamente na mesma medida em que é útil saber linguagem gestual, mesmo quando se ouve e fala perfeitamente, para que todos possamos comunicar com todos.Um esforço que iria de encontro à “Década da Literacia para Todos: voz para todos, aprendizagem para todos”, assim catalogada pela UNESCO, para o período 2002/2013.
Paulo Soares, de Vila da Rua, é um exemplo de alguém que percebeu as vantagens de aprender braille, como forma de conseguir apreciar a vida, ingressar no mercado de trabalho e ser tratado como um igual.
Com uma visão limitada ao olho direito e, mesmo assim, só a cerca de 20 por cento, desde cedo percebeu a necessidade de aprender braille. Um professor de apoio uma vez por semana começou a instruí-lo para este alfabeto. Uma habituação que não foi nada fácil, recorda, sobretudo no que toca à leitura. “A sensibilidade nos dedos é sempre um problema”, alega. Uma situação muito pior no caso de diabéticos, que com as picadas têm ainda menos sensibilidade. “Tenho tido muitos colegas diabéticos nas formações que faço e vejo bem as dificuldades que têm em perceber palavras onde antes estavam habituados a sentir só picadas”, esclarece.
Uma dificuldade a que, no caso dos amblíopes se vem somar a tendência para “ler com os olhos, o que me valeu alguns puxões de orelhas”, lembra. No que diz respeito à escrita a habituação é geralmente bem mais rápida.Apesar de estar actualmente desempregado diz que nunca se sentiu prejudicado face aos outros. “Tenho ido a entrevistas, mas isto está mau para todos, não é só para mim por ser amblíope”, reforça. “Mas vou continuar à procura, até porque trabalhar faz bem”, reitera decidido, anunciando que desde que começou a trabalhar, como tem esforçado mais a vista, tem registado uma melhoria gradual da visão. Os médicos anunciaram já que esta situação era de esperar, alimentando-lhe a esperança de que a melhoria continue a acontecer. “Acho que as comemorações do dia mundial do braille deviam apostar mais em sensibilizar a população a nível mundial para as dificuldades com que lidamos diariamente”, conclui.
Aos vinte e oito anos apresenta-se como um apaixonado pela vida, razão pela qual tem evitado fazer uma cirurgia que poderia pôr cobro à cegueira. “Prefiro viver e ver à minha maneira, do que sujeitar-me a ficar como os outros e morrer. Vivo à minha maneira, faço o que fazem os outros e sou feliz assim”. Para ser mais feliz garante que só falta mesmo voltar ao trabalho, “um prémio ao meu esforço que não vai tardar a vir”, refere confiante.Recursos em braillePara o Paulo, o maior obstáculo à alfabetização dos cegos e amblíopes é mesmo a falta de material de estudo em braille. “No meu tempo de estudante tinha de recorrer à minha irmã para me ler os livros, para eu poder tomar as minhas notas em braille” recorda triste. Acrescentando que actualmente a situação está um bocadinho melhor.Atendendo à escassez de documentação acessível a pessoas com deficiência visual, a ACAPO conta com um Centro de Produção Documental que assegura serviços como a produção de facturas da EDP e da PT, Obras Literárias, brochuras de exposições, assim como a transcrição de documentos, documentação de apoio à formação profissional, apoio a gráficas, laboratórios, grandes superfícies comerciais, produção de etiquetas, cartonagens, calendários, etc.De referir ainda a celebração de um Protocolo entre a ACAPO, a PT Comunicações e as Páginas Amarelas, que tem como objectivo definir os termos e condições da respectiva parceria com vista à produção periódica de Listas Telefónicas em Braille, uma medida que irá consubstanciar-se em torno de 4 listas, a da Grande Lisboa, Norte, Centro, Sul e Ilhas. Estas listas serão entregues ou enviadas a um grupo composto por entidades colectivas ou individuais, residentes na área geográfica abrangida pela lista em causa. Para os que quiserem receber a lista da respectiva zona geográfica fica a indicação de que basta entrar em contacto com o Centro de Produção Braille da ACAPO.
Braille, o alfabeto dos invisuais
Braille é um sistema de leitura com o tacto para cegos inventado pelo francês Louis Braille, cego desde os três anos de idade. Com sete anos ingressou no Instituto de Cegos de Paris onde se tornou professor. Ao ouvir falar de um sistema de pontos e buracos inventado por um oficial para ler mensagens durante a noite em lugares onde seria perigoso acender a luz, L. Braille fez algumas adaptações no sistema de pontos em relevo e inventou o braille. Um método que publicou em 1829.
O sistema Braille é um alfabeto convencional cujos caracteres se indicam por pontos em relevo, os quais o deficiente visual distingue por meio do tacto. A partir dos seis pontos salientes, é possível fazer 63 combinações que podem representar letras simples e acentuadas, pontuações, algarismos, sinais algébricos e notas musicais. Um cego experiente pode ler duzentas palavras por minuto.Este método foi oficialmente adoptado na Europa e América em 1852, curiosamente o ano da morte do seu inventor.
Por: Guida Canhoto"

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