"Dois dos espólios mais importantes para a compreensão da evolução do que foi a arquitectura portuguesa na segunda metade do século XX, pertencentes aos arquitectos Manuel Tainha e Nuno Teotónio Pereira, foram ontem doados pelos próprios à Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), em Lisboa.
Embora diferentes entre si, ambos os acervos são considerados imprescindíveis para uma melhor compreensão da história da arquitectura lusa. Ontem, todos estes documentos foram entregues à guarda da Biblioteca de Arte da FCG, que os irá disponibilizar on-line depois de devidamente sistematizados e organizados."No caso do espólio do arquitecto Manuel Tainha, um dos arquitectos que mais tem contribuído para a cultura arquitectónica portuguesa contemporânea, reúne mais de 50 anos de trabalho por si produzido e, de certo modo, dá continuidade a uma vocação que a Biblioteca de Arte já tinha iniciado ao inserir no seu espólio documentação da actividade privada dos arquitectos Raul Lino e Cristino da Silva", adiantou ao JN José Afonso Furtado, o director da Biblioteca de Arte da FCG. O mesmo responsável adiantou que, até final deste ano, o espólio destes arquitectos estará disponibilizado para consulta on-line através do site http//www.bibliarte.gulbenkian.pt.Quanto documentação que o arquitecto Nuno Teotónio Pereira doou à Gulbenkian, e que se encontra reunida em seis pastas, trata daquele que foi o Movimento de Renovação da Arte Religiosa (MRAR), a mais importante iniciativa nesta área surgida em 1952 e cuja actividade se prolongou até finais da década de 1960. A documentação doada reúne um conjunto de publicações e documentos que testemunham a actuação do MRAR, de que Nuno Teotónio Pereira foi membro fundador e primeiro presidente. Entre essa documentação contam-se cópias das actas das reuniões, abaixo assinados de integrantes do movimento, onde se incluem nomes não só de arquitectos, mas também de artistas plásticos, e historiadores. Do MRAR, refira-se, fizeram parte artistas como Manuel Cargaleiro, José Escada, e personalidades como Diogo Lino Pimentel, Nuno Portas, Madalena Cabral ou Maria José de Mendonça que , na época, reagiram contra a manutenção dos modelos arquitectónicos de cariz tradicionalista nas novas construções religiosas dos centros urbanos de Lisboa e do Porto. Na documentação inclui-se ainda colecção completa das duas séries do boletim do MRAR. Formado pela Escola Nacional de Belas Artes de Lisboa, Manuel Tainha recebeu vários prémios de Arquitectura, dos quais se destacam o Prémio Valmor e Municipal de Arquitectura de 1991, atribuído ao edifício da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação de Lisboa, e o Prémio Tschumi de 2002, atribuído pela União Internacional de Arquitectos. Entre outros, ficarão depositados na Biblioteca de Arte os projectos Piscinas do Tamariz (1954-56); Pousada de Stª Barbara, Oliveira do Hospital (1957-1971); Casa Gallo, S.Pedro de Moel (1970-1975); Escola Superior de Tecnologia de Tomar (1988-1993); Departamento de Engenharia Mecânica, Universidade de Coimbra (1990-1996); Biblioteca Municipal de Viseu (1994-2000); Porta Norte, Expo 98, Lisboa (1996-1998).José Afonso Furtado sublinhou ainda ao JN a importância da doação de todos estes documentos à FCG, entidade que "já naquela época apoiou várias acções realizadas no âmbito da actuação do MRAR". José Afonso Furtado recordou que, entre essas iniciativas contam-se "uma série de lições preparatórias do projectado concurso para a construção da igreja do Sagrado Coração de Jesus; a Exposição de Arte Sacra Moderna (1956 e 1960); o concurso do ante-projecto para a construção da Sé de Bragança e a Exposição itinerante organizada na ocasião do Congresso Eucarístico Interna Eucarístico Internacional, apresentada em Portugal em 1964.A agora denominada Biblioteca de Arte constituiu-se em 1968 com o objectivo de centralizar os fundos documentais existentes na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, com especial relevância para aqueles destinados a apoiar a colecção particular do fundador constituída por cerca de três mil títulos. Em 1993, definiu-se definitivamente a sua especialização nas áreas das artes visuais e da arquitectura e, simultaneamente, deu-se início ao processo de informatização do catálogo bibliográfico. A arte em Portugal é o tema principal deste acervo, distribuído por um total de 166 colecções e criado através de proveniências diversas."
Fonte: Jornal de notícias
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