De acordo com Paul Teyssier, na obra “Gil Vicente – o Autor e a Obra”, este monólogo de Gil Vicente é uma “lamentação” posta na boca de uma velha bêbeda que, além disso, é mulata (e por isso se chama “Parda”) – personagem “que viu as ruas de Lisboa com tão poucos ramos nas tavernas e o vinho tão caro, e ela não podia viver sem ele”. Escrito em 1522, este monólogo veio a ser muito popular e teve numerosas reedições. (…) Houve em 1522 uma terrível fome no reino. Os camponeses esfaimados morriam ao longo dos caminhos. Integrado neste contexto, o Pranto de Maria Parda reveste toda a sua significação. (…)Como não ver que Maria Parda, a morrer à sede, é a imagem invertida dos desgraçados que morriam à fome? Mas Maria Parda é uma velha, uma bêbeda, e mais ainda: uma mulata. Por isso é necessariamente ridícula. O seu desespero é cómico, o seu testemunho burlesco. Faz rir – e isso é uma maneira de exorcizar o drama da fome. O Pranto de Maria Parda, por conseguinte, é uma paródia. Este texto pertence ao “mundo às avessas”. No estilo da chocarrice popular, esconjura e elimina o sofrimento e a morte.O preço dos bilhetes é de 2 euros.
Fonte: Rostos
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